segunda-feira, 29 de abril de 2013

Música para a semana

E que tal começar a semana ouvindo uma música que te motive a ir em frente e a não desistir? São os últimos dias do mês, vamos celebrar! 
Celebrar, como se amanhã o mundo fosse acabar. Tanta coisa boa a vida tem pra te dar. O pensamento leve faz a gente mudar.

Vamos terminar o nosso mês com este pensamento. Vamos celebrar, vamos viver. Vamos dançar, sorrir, cantar, pular.

 

sábado, 27 de abril de 2013

O fim de uma viagem.

obs: antes de ler este texto, leia: Especial: Mario Prata. Assim você entenderá o por quê de eu ter escrito isso. Quis me colocar no lugar da moça que entrou no avião e sentou ao lado daquele senhor...

------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Entrei no avião com a minha calça Lee desbotada, meu cabelo bagunçado, sem maquiagem nenhuma. Meus apenas 25 anos estavam indo junto comigo para Porto Alegre.
Ia em busca do meu amor que estava a me esperar na capital Rio-Grandense.
Entrei no avião e me deparei com um homem de meia idade. Deveria ter o que, uns 35 anos? Talvez.

Havia um assento ao lado dele que estava vago e era justamente o meu. Me sentei ali e percebi que ele me olhou com carinho, mas não disse nada. Logo após me acomodar, peguei minha frasqueira, levantei-me e fui ao banheiro. Tinha que me trocar. Meu amado não poderia me ver assim, toda desarrumada. Me troquei e voltei ao meu assento, sem dar muita importância ao homem que estava do meu lado. Foi aí que peguei minha outra frasqueira e retirei de lá algumas das minhas maquiagens. Comecei a me maquiar. Prendi meu cabelo depois de tê-lo escovado.
Percebi aquele homem de aparência gentil me olhando novamente, como se quisesse me perguntar algo. Mas nada ele falou.

Quando eu tinha terminado de me arrumar, peguei a carta que meu amado tinha me deixado antes de se mudar de São Paulo a Porto Alegre e a li novamente. As palavras de amor verdadeiro que estavam escritas ali sempre me emocionavam. E foi quando eu estava lendo aquela carta que eu recebi uma mensagem de minha mãe que mudaria todo o roteiro e o destino de minha viagem.

Eu li rapidamente aquela mensagem e não acreditei no que estava escrito. Mamãe disse que Pedro, o meu amado, havia sofrido um acidente enquanto ia até o aeroporto Salgado Filho para me esperar, e ele não resistiu.

Lendo isso eu levantei aos choros e prantos e deixei aquele moço desolado na poltrona do avião. Ele ficou sem entender, ficou me observando novamente, mas afinal, ele não precisava entender nada.

Fui até o banheiro novamente. Já tinha chorado muito e minha cara estava toda borrada. Era maquiagem e lágrimas pelo rosto todo. Me lavei toda. Eu me vi no chão, sem nenhum rumo a seguir. Parecia que aquele avião tinha caído todo sobre mim.

Me olhei muitas vezes no espelho e vi que não tinha mais jeito. Me desarrumei. Fiquei de cara lavada, troquei de roupa novamente e voltei ao meu assento.
Pedi desculpas ao meu companheiro de poltrona e deixei-o novamente sem entender a situação.

Agora meu colega de poltrona me olhou espantado. Eu vi que ele estava curioso e que queria saber o porquê de eu me arrumar toda e voltar ao banheiro chorando para trocar de roupa. Voltei ao meu assento da mesma maneira em que entrei. Com a mesma roupa, toda desarrumada, e com um pequeno sorriso no rosto, afinal, ninguém precisava saber do enorme buraco que agora havia no meu peito. Eu sabia, porém, que aquele senhor queria saber de algo, mas ele foi educado e não me perguntou nada. Ele parou em Floripa e eu tinha mais algumas horas de voo. Até pensei em me arrumar novamente, me maquiar, ficar bonita. Mas agora para quem eu me arrumaria? Quem estava me esperando não estaria mais lá...

Fui de Floripa a Porto Alegre toda desarrumada e chorei muito. Só me acalmei quando cheguei no aeroporto e pude abraçar a minha mãe. Foi uma viagem cheia de planos. Eu estava a trabalho quando fui a São Paulo e agora que eu poderia voltar e rever toda a minha família e o meu Pedro isso acontece.

E mais uma vez o destino me pregou uma peça que me machucou muito e que vai continuar me machucando. Mas eu não posso parar a minha vida. É preciso seguir em frente, com meu amado apenas me mandando forças. Pois foi só isso que restou. O nosso amor e aquela carta metade amassada, metade rasgada. Mas restou.

Especial: Mario Prata.

 Voando com a bela da tarde

Ela devia ter o quê? Vinte, vinte e um.
Eu estava sentado na 10C, corredor. Ao meu lado, duas poltronas vagas. Ela vem vindo lá da frente e o pensamento começa a dizer aqui, aqui, aqui. E ela se sentou aqui. Levantei-me quando chegou, sou educado, mamãe ensinou. E minha filha acrescentaria: velho tarado.
Sabe gracinha? Pois. Meio esculhambada, despenteada no ponto certo, calça de brim justa e amarrotada. Pele de pêssego, como diria Machado de Assis se cá voasse.

Mal o avião se estabilizou lá em cima, ela foi para o banheiro com uma espécie de frasqueira. Licença, licença, joelho com joelho.
Uns quinze minutos lá dentro, o que já estava me deixando preocupado. A porta se abre e sai outra moça lá de dentro. Quer dizer, era ela, mas tinha trocado de roupa. Deveria ter o que agora? Trinta, trinta e cinco? Um tailleur (não sei se é assim que se escreve, mas ela usava uma coisa horrível). Quase dei um toque, mas eu não tinha nada a ver com aquilo. Queria dizer que ela era muito mais bonita, jovem. Um pedaço da barra da calça Lee saía para fora da frasqueira me lembrando como ela era há vinte minutos e alguns anos atrás.

Eis que pega uma outra frasqueira, retira duas escovas lá de dentro e dá um trato no cabelo. Alisou aquele desarranjo tentador. Prendeu atrás. Já estava com uns quarenta anos a minha mocinha.
Mas a coisa não parou por aí. Pegou lá de dentro o material de pintura. Colocou um espelho na mesinha onde deveria ter colocado um vinho tinto, como eu. E começou a transformação final. Base, rímel, batom. Colocou olheiras nos olhos, sombras, penteou as sombrancelhas (que palavrinha...) com um minúsculo pincelzinho preto. Deve ter colocado uns cinco centímetros de base. Sua pele sumiu lá em baixo. O pêssego virou um abacaxi. E, pasmem! meteu uma pinta falsa na bochecha antes rosada, agora amarelo-malária.
Pronto, ela estava com cinquenta anos. Ou mais.

E eu ali, olhando e começando a imaginar quem é que estaria esperando a moça em Florianópolis. O cara devia ter um mau gosto danado. Quase que eu pensei em falar com ela: como é que o cara vai te beijar, te apertar, se você está com essa gosma toda na cara? Como é que ele vai te beijar toda besuntada assim? Mas tem gente que gosta e eu fiquei na minha.

Foi quando ela tirou uma carta da bolsa. Pelo jeitão do amassado do papel ela já deveria ter lido aquilo umas dez vezes.
Mas leu de novo, ali do meu lado, na 10A. Seu rosto (ou o que restava do seu rosto) foi se contraindo e ela começou a chorar. No começo um chorinho humilde para aquelas alturas. Mas depois a coisa ficou feia. O rosto dela, com aqueles pares e pares de lágrimas foi se melecando com aquilo tudo. Pegou o guardanapo, passou na cara e agora ela parecia uma velhinha camuflada.

E eu olhando. Rasgou a carta em mil pedaços. Me pediu desculpas, sei lá por quê. Pediu licença e foi para o lavatório ( que é como se chama banheiro em avião). Desta vez ficou uns vinte minutos e eu ali na 10C apostando comigo mesmo como é que ela iria sair desta vez.
Para meu espanto e alegria, saiu de lá como entrou no avião. Aproveitou que estava no lavatório, lavou tudo, despenteou-se e colocou a velha e boa calça Lee desbotada. Aproveitou e salpicou um sorriso no rosto, como se fosse o talinho de um pêssego. Voltou, joelho-joelho, sentou-se. Agora de tênis. Limpo, mas honesto tênis. E eu, ali, olhando.

Olhando e pensando em quem estaria esperando a menina no aeroporto. Pensando no teor (ou terror) daquela carta.
O avião desceu. Eu desci e fiquei esperando ela pegar a mala. Eu tinha que saber como ia chegar a menina. O encontro. Como ia ser recebida, de novo com vinte anos. Mas ela não desceu do avião. Não sei se desistiu ou se o seu destino era mesmo Porto Alegre.

Fiquei desesperado, liguei para o Luís Fenando Verissimo. Queria que ele fosse até o aeroporto de lá para ver a chegada da minha menina. Como sempre, ele estava viajando. Tentei o Peninha, o Eduardo Bueno. Secretária eletrônica. Quem mais eu tenho em Porto Alegre?
Ninguém, a não ser ela, a moça da fileira 10.