obs: antes de ler este texto, leia:
Especial: Mario Prata. Assim você entenderá o por quê de eu ter escrito isso. Quis me colocar no lugar da moça que entrou no avião e sentou ao lado daquele senhor...
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Entrei no avião com a minha calça Lee desbotada, meu cabelo bagunçado, sem maquiagem nenhuma. Meus apenas 25 anos estavam indo junto comigo para Porto Alegre.
Ia em busca do meu amor que estava a me esperar na capital Rio-Grandense.
Entrei no avião e me deparei com um homem de meia idade. Deveria ter o que, uns 35 anos? Talvez.
Havia um assento ao lado dele que estava vago e era justamente o meu. Me sentei ali e percebi que ele me olhou com carinho, mas não disse nada. Logo após me acomodar, peguei minha frasqueira, levantei-me e fui ao banheiro. Tinha que me trocar. Meu amado não poderia me ver assim, toda desarrumada. Me troquei e voltei ao meu assento, sem dar muita importância ao homem que estava do meu lado. Foi aí que peguei minha outra frasqueira e retirei de lá algumas das minhas maquiagens. Comecei a me maquiar. Prendi meu cabelo depois de tê-lo escovado.
Percebi aquele homem de aparência gentil me olhando novamente, como se quisesse me perguntar algo. Mas nada ele falou.
Quando eu tinha terminado de me arrumar, peguei a carta que meu amado tinha me deixado antes de se mudar de São Paulo a Porto Alegre e a li novamente. As palavras de amor verdadeiro que estavam escritas ali sempre me emocionavam. E foi quando eu estava lendo aquela carta que eu recebi uma mensagem de minha mãe que mudaria todo o roteiro e o destino de minha viagem.
Eu li rapidamente aquela mensagem e não acreditei no que estava escrito. Mamãe disse que Pedro, o meu amado, havia sofrido um acidente enquanto ia até o aeroporto Salgado Filho para me esperar, e ele não resistiu.
Lendo isso eu levantei aos choros e prantos e deixei aquele moço desolado na poltrona do avião. Ele ficou sem entender, ficou me observando novamente, mas afinal, ele não precisava entender nada.
Fui até o banheiro novamente. Já tinha chorado muito e minha cara estava toda borrada. Era maquiagem e lágrimas pelo rosto todo. Me lavei toda. Eu me vi no chão, sem nenhum rumo a seguir. Parecia que aquele avião tinha caído todo sobre mim.
Me olhei muitas vezes no espelho e vi que não tinha mais jeito. Me desarrumei. Fiquei de cara lavada, troquei de roupa novamente e voltei ao meu assento.
Pedi desculpas ao meu companheiro de poltrona e deixei-o novamente sem entender a situação.
Agora meu colega de poltrona me olhou espantado. Eu vi que ele estava curioso e que queria saber o porquê de eu me arrumar toda e voltar ao banheiro chorando para trocar de roupa. Voltei ao meu assento da mesma maneira em que entrei. Com a mesma roupa, toda desarrumada, e com um pequeno sorriso no rosto, afinal, ninguém precisava saber do enorme buraco que agora havia no meu peito. Eu sabia, porém, que aquele senhor queria saber de algo, mas ele foi educado e não me perguntou nada. Ele parou em Floripa e eu tinha mais algumas horas de voo. Até pensei em me arrumar novamente, me maquiar, ficar bonita. Mas agora para quem eu me arrumaria? Quem estava me esperando não estaria mais lá...
Fui de Floripa a Porto Alegre toda desarrumada e chorei muito. Só me acalmei quando cheguei no aeroporto e pude abraçar a minha mãe. Foi uma viagem cheia de planos. Eu estava a trabalho quando fui a São Paulo e agora que eu poderia voltar e rever toda a minha família e o meu Pedro isso acontece.
E mais uma vez o destino me pregou uma peça que me machucou muito e que vai continuar me machucando. Mas eu não posso parar a minha vida. É preciso seguir em frente, com meu amado apenas me mandando forças. Pois foi só isso que restou. O nosso amor e aquela carta metade amassada, metade rasgada. Mas restou.